O artigo publicado no Digesto Econômico nº 62 em janeiro de 1950 reproduz o Relatório, do qual San Tiago Dantas foi relator, da Comissão de Estudos Gerais da Comissão Mista Brasileiro-Americana {1948-1949), conhecida como Missão Abbink. O resultado geral da Missão foi recebido como decepcionante, já que, em vez de sugerir, como alguns esperavam, um Plano Marshall tropical, recomendou ênfase no papel do investimento privado para o desenvolvimento e defendeu ideias pioneiras que só vingariam décadas depois, como a criação do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários.
1953
Publicado no livro “Poder Nacional, Cultura Política e Paz Mundial”
NECESSIDADE DE INVESTIMENTOS
Na etapa atual de sua evolução econômica, o Brasil apresenta-se como um país subcapitalizado, cujo desenvolvimento depende de investimentos em serviços públicos, meios de transporte, aproveitamento de potencial hidráulico, exploração de recursos minerais, agricultura intensiva e industrialização de produtos primários obtidos no país.
Esse programa de desenvolvimento intensivo, que se tem de repartir entre a iniciativa privada e a iniciativa do Estado, exige a contribuição de capitais consideráveis, formados no próprio país ou vindos do estrangeiro. Os primeiros representam uma contribuição importante, indispensável, mas deficiente em face da ordem de grandeza dos investimentos de que necessitamos. A fraca acumulação de capitais é um dos males crônicos da economia brasileira, agravado pelo rápido desgaste que a inflação tem operado no valor das economias coletivas e populares e pela tendência às inversões não produtivas, especialmente ligadas ao processo de superurbanização. Os segundos, isto é, os capitais vindos do estrangeiro, não têm afluído ao país em suficiente quantidade, nem se têm aplicado em atividades fundamentais para o desenvolvimento geral, desde que se acentuaram as características desfavoráveis da situação internacional criada pela grande depressão econômica imediatamente anterior aos anos trinta: as moratórias, o nacionalismo econômico, a escassez de divisas para atender aos serviços do capital.
O primeiro objetivo prático a que corresponde uma política de investimentos visando ao desenvolvimento intensivo do país é, portanto, criar condições favoráveis à formação e aplicação produtiva de capitais domésticos e à entrada de capitais estrangeiros por iniciativa privada ou governamental. A consecução desse objetivo depende de medidas de ordem geral – relativas à economia do país na generalidade de seus aspectos – e de medidas especiais, que se inscrevem no quadro mais restrito da política de investimentos. É possível pretender que as medidas gerais teriam suficiente eficácia para encaminhar à solução o nosso problema de falta de investimentos. De fato, estancada a inflação, saneada a situação monetária, organizado o crédito, o processo de capitalização se faria normalmente e os capitais estrangeiros seriam gradualmente atraídos pela regeneração da nossa economia. É certo, porém, que algumas normas especiais relativas aos investimentos podem ter influência favorável sobre esse processo geral e que, sem o emprego de medidas específicas, não conseguiremos o desenvolvimento intensivo de um país subdesenvolvido.
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