Quando o governo de Campos Sales confiou a Clóvis Bevilacqua a grande tarefa do Código Civil, a sociedade brasileira atravessava um dos períodos mais ricos de seiva do seu desenvolvimento intelectual.
Um contraste singular reinava entre a economia e a inteligência, entre a situação de debilidade material do país e a força com que irrompiam os sinais de uma nova mentalidade.
O regime republicano tivera a infelicidade de se instalar quando se abria uma era de depressão econômica mundial, que se estendeu nos Estados Unidos de 1890 a 1897, na Inglaterra de1890 a 1895, e fez sentir seus efeitos, entre nós, até os primeiros anos do século seguinte. A depressão nos países compradores arruinou, como sempre ocorre, os preços dos produtos primários, e o governo de Prudente de Morais teve, assim, de assistir impotente à queda vertical da taxa de câmbio e dos preços do café.
Se pensarmos que a política financeira do Governo Provisório se iniciara sob o signo da inflação e de uma industrialização incipiente e prematura, criadora de iniciativas pouco sólidas, logo figuraremos o triste quadro a que deveríamos ter chegado em 1898: falências em perspectiva, a classe rural reduzida à insolvência, o tesouro depauperado pelas lutas internas, que haviam feito crescer a dívida pública, e – sombras formidáveis – o déficit orçamentário, o descrédito no exterior, o desemprego.
Nos mesmos anos, entretanto, por um desses descompassos, que maravilham o espectador, eleva-se a um nível, até então inatingido, a vida intelectual do país.
Dir-se-ia que toda uma geração, captando os problemas agitados pela cultura europeia do seu tempo, lançava, entre nós, no espaço de um decênio, as bases de um grande movimento de ideias, sem diretriz comum definida, mas aberto à realidade histórica e atual do país, tanto quanto às questões universais.
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