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Um Republicano – Centenário de Lucio de Mendonça

Quando, em 1871, Lúcio de Mendonça transpunha as arcadas do Largo de São Francisco, para dar início ao seu curso jurídico, começava para a sociedade brasileira uma década decisiva, em que se preparariam fundamentais transformações. O adolescente nascido em 1854, no apogeu do Império, iria formar o seu espírito e fixar os objetivos permanentes, para os quais orientou sua alma e sua existência, na fase em que as instituições monárquicas, velozmente envelhecidas, recebiam o choque de ideologia contrária e começavam a sofrer com a decomposição incipiente do quadro social e econômico em que assentavam.

O ambiente intelectual da Faculdade era literário e romântico.

As letras jurídicas eram largamente suplantadas pelas belas-letras, e os grandes nomes de que se ufanava a tradição acadêmica não eram de juristas, mas de poetas. Poetas românticos, que foram porventura os maiores da nossa terra, se quisermos medir a grandeza dos poetas pela extensão e profundidade com que penetram, modelam e definem o gosto literário – erudito e popular.

As vozes de Castro Alves e Álvares de Azevedo eram contemporâneas. O poeta romântico ligava a paixão amorosa e a paixão cívica, e se de um lado falava ao que há de recôndito e incomunicável no indivíduo, de outro lado exprimia os grandes anseios, que agitavam, a menos de um século de distância, a alma liberta das multidões.

No ambiente romântico daquele tempo, o poeta não era socialmente o ser à parte que voltou a ser hoje; era, antes, um líder social.

A vocação poética – longe de exprimir uma atitude de abstenção e de alheamento aos problemas do tempo – era uma vocação essencialmente ativa, um sinal de liderança e um anseio de participação.

Lúcio de Mendonça trazia talvez do berço a predisposição para essa adolescência típica do homem da elite de sua época.

Seu coração sensível, dotado de meiguice, de delicadeza e comunicativa emoção, já o inclinara, desde a meninice, a uma poesia elegíaca, sem veemência e sem arroubos, na qual se refletiu até o fim da existência o equilíbrio de sua natureza difícil e delicada.

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