1952
Publicado no livro “Poder Nacional, Cultura Política e Paz Mundial”
O estudo que me proponho a realizar, sobre o tema “Segurança Regional do Atlântico Norte”, apresenta, como em todos os estudos sobre a evolução recente das relações internacionais, caráter extremamente conjectural. A respeito de fatos que se desenvolvem dentro de um período muito curto, sujeitos a inflexões que alteram constantemente o seu sentido, não é fácil estabelecer previsões, nem oferecer critérios seguros de interpretação que se possam considerar válidos, senão dentro de um breve período de observação.
Muitas circunstâncias tornam o Tratado do Atlântico Norte e o Sistema de Segurança Regional, a que ele cedeu lugar, um ponto culminante da organização internacional presente e, para nós, uma referência no estudo do problema da própria Segurança Regional de que fazemos parte. A primeira dessas razões estará, talvez, na proeminência da área do Atlântico Norte, no quadro da Segurança Mundial. Constitui-se uma questão com a qual todos parecem concordar: a segurança do mundo moderno repousa, principalmente, no Ocidente Europeu e na área adjacente do Atlântico Norte.
Embora a evolução, a longo prazo, possa aumentar a importância que damos aos cenários asiáticos, embora se possa considerar que o choque entre o chamado bloco democrático e o bloco soviético apresenta um quadro de evolução mais pessimista no setor asiático; indubitavelmente, na Europa Ocidental parece encontrar-se o cenário eventual de uma decisão entre os dois blocos. Por esse motivo, toda a política externa dos Estados Unidos e, podemos dizer, por via de consequência, toda a política de segurança desenvolvida pelas Nações Unidas faz do cenário do Atlântico Norte e da Europa Ocidental a parte mais importante da sua concentração de esforços, diplomáticos e militares.
Por outro lado, o cenário de que estamos nos ocupando ainda nos interessa sob outro aspecto. Nada estaria mais distante das esperanças com que se encerrou a Segunda Grande Guerra do que a constituição, no mundo moderno, de dois grandes blocos políticos, mutuamente inquebráveis, a cujas relações tensas denominamos Guerra Fria. Seu epílogo constitui, para todos nós, o motivo predominante da inquietação dos nossos tempos. Tais aspectos dramáticos da vida internacional atual são o resultado de um equilíbrio de forças entre os dois blocos ou, mais precisamente, entre dois países cuja capacidade financeira, demográfica e industrial para a guerra parece não encontrar paralelo em nenhum outro dos Estados mundiais.